13 de out. de 2005

O Teatro

O Teatro, assim mesmo, com maiúscula , entrou na minha vida de maneira inexpugnável.
Sempre tive uma certa simpatia por ele, mas nunca me interessei em que fizéssemos parte um do outro. Ele era apenas mais um instrumento a ser usado para que a minha Dança (assim, com maiúscula também) se revelasse por inteira. Isso era o que eu pensava.Mas ele, o Teatro, tinha outros planos para nós.
Veio vindo aos pouquinhos, se insinuando, fingindo a princípio que só queria ser um ajudante da Dança, essa sim a grande estrela da minha vida. Depois, meio que pedindo desculpas, pediu ajuda à Dança, pediu permissão para que eu ficasse só um pouquinho com ele, pois ele queria aprender a ser como ela, e essa, envaidecida, deixou.
Deixou que ele se aproximasse de mim e me envolvesse, sem perceber o que estava preparando.Sedutor, persuasivo, o Teatro propôs à Dança, que ambos fizessem uma parceria. Ele seria a desculpa para que ela aparecesse nos melhores momentos do espetáculo. E ela, burrinha, aceitou.
Eis que veio o golpe final.Sem aviso, o Teatro me tomou nos braços, jogou a dança para a coxia, e me disse: Agora somos só nós dois. Agora eu vou te ensinar o que é brilhar, contando apenas consigo. Agora você vai beber do prazer que é se tranformar em várias pessoas sem precisar de muletas. Apenas você e a ribalta.
Tentei fugir. Argumentei que não seria capaz de fazer nada sem a Dança, que ele estava redondamente enganado, mas foi em vão.Então, de súbito, compreendi. Compreendi que havia me apaixonado irremediavelmente pelo Teatro, assim mesmo, com maiúscula. Agora quem quer beber o mel desse lábios desafiadores sou eu.
E a Dança? Bem, ainda a amo, não posso abandoná-la, mas ela terá que se acostumar, a partir de agora, a ser coadjuvante nesse espetáculo que é a minha vida.

Nenhum comentário: